Você sabe o que são oligossacarídeos? Sabe que ele está presente no leite materno? Sabe quais são suas funções dentro do leite materno?
Vamos tentar esclarecer?
Vamos nessa!
BEBÊS E OS OLIGOSSACARÍDEOS
Depois dos primeiros segundos de vida e dos micróbios que os acompanham, as semestes da microbiota de um bebê ainda têm um longo caminho a percorrer para chegar à maturidade. O que se desenvolverá depois depende dos cuidados nos dias, semanas e meses que virão.
Os oligossacarídeos são carboidratos constituídos de cadeias curtas de açúcares simples (oligo significa “poucos”). O leite humano contém uma enorme variedade deles – cerca de 130 tipos diferentes. Isso é bem mais do que o leite de qualquer outra espécie.
Quando adultos, nada em nossa alimentação contém essas moléculas. No entanto elas são produzidas pelo tecido mamário de mulheres grávidas e lactantes.
Os oligossacarídeos são agora conhecidos como fundamentais para encorajar as espécies certas de micróbios a se instalarem na microbiota intestinal incipiente do bebê.
Os que recebem leite materno têm a microbiota dominada por lactobacilos e bifidobactérias. Ao contrário do corpo humano, produzem enzimas capazes de usar os oligossacarídeos como sua única fonte de alimento.
AGCC’s – ÁCIDOS GRAXOS DE CADEIA CURTA
Na forma de resíduos, as enzimas sintetizam os importantíssimos ácidos graxos de cadeia curta:
- Butirato;
- Acetato;
- Propionato;
- Lactato.
O mais valioso para os bebês é o lactato, também conhecido como ácido láctico.
Esse ácido alimenta as células do intestino grosso e desempenha um papel crucial no desenvolvimento do sistema imunológico do recém-nascido.
Em termos simples, enquanto os adultos precisam ingerir fibras alimentar, os bebês precisam dos oligossacarídeos do leite materno.
QUAL A FUNÇÃO DOS OLIGOSSACARÍDEOS PRESENTES NO LEITE MATERNO?
A função dos oligossacarídeos encontrados no leite materno humano, não se resume a servir de alimento para bactérias. Nos primeiros dias e semanas de vida, a microbiota intestinal do recém-nascido é muito simples e altamente instável. Populações de bactérias passam por altos e baixos. Com isso a comunidade fica vulnerável. A entrada de um patógeno – Streptococcus pneumoniae por exemplo – pode causar um estrago, dizimando os grupos benéficos.
Os oligossacarídeos encaixam-se perfeitamente nesses pontos, privando espécies nocivas de um local onde se estabelece.
Dos cerca de 130 tipos de oligossacarídeos, dezenas já são conhecidos como específicos para determinados patógenos, encaixando-se em seus locais de aderência como uma fechadura e uma chave.
COMPOSIÇÃO DO LEITE MATERNO
O leite materno se adapta às necessidades do bebê à medida que vai crescendo.
Logo após o nascimento, o leite inicial, chamado colostro, está repleto de células imunológicas, anticorpos e umas quatro colheres de chá de oligossacarídeos por litro de leite.
Com o tempo, conforme a microbiota vai se estabilizando, o teor de oligossacarídeos diminui.
Quatro meses após o nascimento, cai para menos de três colheres de chá por litro, e no primeiro aniversário do bebê contém menos de uma.
Esse leite sobre medida mostra que os oligossacarídeos não estão diminuindo simplesmente porque a mãe não consegue manter a produção. Pelo contrário, o que ocorre é uma adaptação para fornecer ao bebê o leite apropriado à comunidade microbiana de cada período.
A natureza selecionou o leite que traz benefícios aos micróbios, porque os micróbios trazem benefícios aos mamíferos.
BANCOS DE LEITE
Os oligossacarídeos não são o único ingrediente-surpresa no leite materno.
Por décadas, mamães lactantes caridosas têm feito doações a bancos de leite de hospitais. Eles são a salvação de bebês cujas mães não conseguem amamentá-los, muitas vezes porque nasceram prematuros ou doentes demais para começar a mamar, fazendo com o que o suprimento da mãe secasse.
Mas bancos de leite sofrem um problema constante: o leite está sempre contaminado por bactérias.
Muitos desses micróbios vêm do mamilo e seio, mas por mais que a pele da doadora seja minuciosamente limpa antes da coleta, os microrganismos nunca são eliminados do leite materno.
SERÁ MESMO QUE ESSAS BACTÉRIAS ENCONTRADAS NO LEITE SÃO REALMENTE CONTAMINANTES?
Técnicas assépticas de coleta cada vez mais sofisticadas, combinadas com tecnologia de sequenciamento do DNA, revelaram a razão por trás dessa suposta contaminação.
Essas bactérias pertencem ao leite materno!
Não são intrusas da boca do bebê ou do mamilo. Pelo contrário, foram acrescentadas ao leite pelo próprio tecido mamário.
Mas de onde vêm?
Muitas são bactérias típicas da pele que, de sua moradia normal na superfície do seio se infiltram nos canais de leite. São bactérias de ácido láctico, mais normalmente encontradas na vagina e no intestino. De fato, o exame das fezes da mãe revela grupos correspondentes em seu intestino e leite. De algum modo, esses microrganismos saíram do intestino grosso e foram até os seios.
O QUE OCORRE COM O LEITE MATERNO AO LONGO DO TEMPO?
Assim como o teor de oligossacarídeos no leite materno muda à medida que o bebê vai crescendo, o mesmo acontece com a combinação de micróbios presentes no leite.
As espécies necessárias ao bebê no primeiro dia, são diferentes das necessárias com um, dois ou seis meses.
O colostro contém centenas delas. Gêneros como Lactobacillus, Streptococcus, Enterococcus bem como Staphylococcus foram detectados, em quantidades de até mil indivíduos por mililitro de leite.
Assim, isso significa que um bebê pode chegar a consumir cerca de 800 mil bactérias por dia só no leite.
Com o tempo, os micróbios no leite ficam menos numerosos e passam a ser de espécies diferentes. Assim, alguns tipos de bactérias que habitam a boca dos adultos são encontradas no leite produzido vários meses após o nascimento, talvez preparando o bebê para a introdução de alimentos sólidos à sua dieta.
Leia também: LEITE MATERNO – O PRIMEIRO PROBIÓTICO
A FORMA COMO O BEBÊ NASCE INFLUENCIA NA COMPOSIÇÃO DO LEITE MATERNO
Curiosamente, a forma como um bebê nasce tem um grande impacto sobre os micróbios encontrados no leite de sua mãe.
Dessa maneira, o teor microbiano do colostro de mulheres que deram à luz por cesariana eletiva é notadamente diferente daquele das mulheres que deram à luz por parto normal.
Essa diferença persiste por pelo menos seis meses. Mas em mulheres submetidas a cesarianas emergenciais durante o trabalho de parto, a microbiota do leite se assemelhou bem à de mães que deram à luz por parto normal.
Algo no trabalho do parto soa um alerta, informando ao sistema imunológico que está na hora de se preparar para o bebê sair do corpo e começar a ser nutrido por leite materno em vez de placenta.
Parece provável que os muitos hormônios poderosos liberados durante o trabalho de parto sejam esse alerta. Sendo assim, sua liberação altera quais micróbios são transferidos do intestino para os seios.
A cesariana, portanto, cria uma diferença duplamente perniciosa: altera não apenas o inóculo microbiano que o bebê recebe ao adentrar no mundo, mas também os micróbios que ele vai receber pelo leite materno.
Portanto, oligossacarídeos, bactérias vivas e outros compostos encontrados no leite materno, proporcionam o alimento ideal para o recém-nascido e sua microbiota, encorajando a instalação de micróbios benéficos e guiando a microbiota intestinal até que sua comunidade fique mais parecida com a dos adultos.
Ele também impede a colonização por espécies nocivas e educa o sistema imunológico infantil sobre o que deveria levantar alguma suspeita e o que merece permanecer ali.